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Enquanto houver céu

  • Foto do escritor: Vilma Aguiar
    Vilma Aguiar
  • 15 de nov. de 2024
  • 2 min de leitura



Josi Basso Pastifício (texto)

Nicole Guimarães (imagem)


Houve um tempo em que tudo era mais descomplicado. Tanto que, por vezes, desdenhei que as histórias de nossas vidas não coubessem em um só livro; quanto menos em uma singular crônica. Mas, unicamente, na vida.

Por vezes esqueci que os balões brancos marcassem o céu apenas como símbolos de celebrações; mas, também, como busca pela paz ou para edificar momentos, aos que merecem ser jamais esquecidos.

 

A linha que demarca os ícones para a felicidade ou tristeza é tênue e a simbologia, por vezes, uma interpretação de caminhos múltiplos. O olhar que repousa sobre céus, florestas, brisas e aviões... faz alguns voar. Outros, já a pousar.

 

Recordo de estar numa exposição de artes. Haviam quadros diversos e um deles prendeu minha atenção. Fez-me sorrir. Em minha face, o sorriso verdadeiro brilhou e uma felicidade absoluta reinou. Foram segundos. Mas eternizados. Entrei naquele cenário, ouvi os sons da natureza. Olhei para o céu azul de Brigadeiro. Senti a brisa morna no meu corpo e o vento forte arrastar minha saia.

 

Dia desses, eles passaram por mim novamente. Carregavam balões pretos. A tristeza que me assolou naquele instante doeu tanto, tanto, que me compadeci de mim mesmo. O que será pensaram eles ao fazer algo tão malévolo para outra pessoa? Atinaram eles que a vida é apenas o capítulo de um livro e que tudo ali se acaba?

Para enobrecer minh‘alma, atrevi-me a comprar balões brancos e a eles dá-los de presente. Será, talvez, compreenderiam? Não me importo mais com o que pensam. Já significam menos para mim. Livrei-me do peso de tentar ser mais do que me é possível. Ou do que deduzem. Os outros!!!! Como dizem por aí, o problema são os outros!

Quando me deparo com o momento real de sofrimento, aqueles que sentimos apenas quando ele bate à nossa porta, e o calafrio sobe pelas pernas, cerro os olhos. Isso sim é efetivo. As outras dores que me devastaram, nada significam. E junto com o sentimento por eles, enterrei as tristezas passadas. Tornaram-se desprezíveis. Olhei para o céu. Dezenas de balões brancos dançam, ao lado da revoada de garças.

 

Noite tarde, me deparei com o cenário do quadro. Mas não estava emoldurado. Era real. Mesmo soturno, o irradiar da lua cheia, que se mostrava aos poucos, fazia o céu belo. Pude avistar o horizonte. A brisa vinda do mar era gélida. O marulho das ondas acalmou minha mente. Não me senti feliz. Não me senti triste. Me senti viva.   

 

E ao rememorar que apenas fazemos parte da história que fazemos e vivemos no momento; no ontem; neste instante, tentei sorrir. Fechei os olhos. Enxerguei o céu repleto de balões brancos. E, mais uma vez, por ínfimos segundos, fui feliz plenamente.

 
 
 

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